CBMAL

MãE DE GOLFINHOS ESPECIAIS REDIGE CARTA EMOCIONANTE

  • 25/01/18
  • 12:01

 

Katiuscia Viana é mãe de Daniel e Davi, que participam do Projeto Golfinho há dois anos

O Projeto Golfinho, a colônia de férias operacional do Corpo de Bombeiros Militar de Alagoas (CBMAL), é um sucesso entre as crianças e os pais há mais de 13 anos. As famílias sempre concluem o projeto com um alto grau de satisfação, por terem vivenciado dias de aprendizado com bastante diversão, além de muito amor envolvido por parte de todos os bombeiros voluntários que integram a iniciativa.

Há alguns anos, o Golfinho tem buscado incluir crianças especiais, como forma de integração à comunidade, e o resultado tem sido imensamente positivo. Ao finalizar a participação de seus dois filhos especiais, a mãe Katiuscia Viana, mãe do Davi e do Daniel, redigiu uma carta emocionada em agradecimento ao Projeto Golfinho.

Para a soldado Joyce Oliveira, que cuidou do Davi durante sua participação na colônia, ele conseguiu conquistar todos os tios e os enquadrou na forma dele de viver. “Compreender a forma e o amor do outro, do jeito do outro, que nem sempre irá se enquadrar nos nossos moldes”, explicou ela.

“Eu sempre abraço a causa do autismo como um desafio, porque apesar de existir diferentes graus, cada um desenvolve o seu modo de comunicação. Eles têm suas limitações, mas nós não. Então temos a opção de querer ou não entrar no mundo deles, e exploram muito em nós esta capacidade de sabermos o que eles precisam. E quando alcançamos essa confiança, a gente sente no toque, no olhar deles, e isso é maravilhoso”, relatou Joyce.

Confira o texto na íntegra: 

“Acredito que, nos dias de hoje, é raro encontrar pessoas que tenham a qualidade de amar, verdadeiramente, ao próximo. Entretanto, há um grupo composto por essas raridades, que tive o privilégio de conhecer há um ano. Quem nunca vivenciou momentos no projeto golfinho, jamais será capaz de compreender a magnitude das coisas que acontecem lá. Os tios não são apenas instrutores ou voluntários, eles carregam algo muito maior dentro de si, impregnado em suas almas, que é a capacidade de se doar, pelo bem do próximo. Deus está ali, sem dúvida alguma!

Esse ano foi a segunda participação dos meus filhos Davi e Daniel, ambos com transtorno do espectro autista grave e leve, respectivamente. As dificuldades que norteiam a vida de Davi ainda são inúmeras. Durante sua participação esse ano no projeto, ele demonstrou o quanto havia evoluído desde o ano passado e o quanto representa pra ele, estar ali. Logo que chegamos, ele olhou, deu um belo sorriso, desceu do carro. Parecia sentir-se confortável, apesar de haver muita gente e barulho, o que comumente é aversivo e doloroso para pessoas com autismo.

Durante toda a semana ele permaneceu calmo, com quase nenhuma estereotipia, não chorou, não gritou, não se agrediu, muito pelo contrário, cantou, dançou, beijou, abraçou, interagiu até com os pais. O único problema é que ele pensava que era golfinho, não queria sair do mar. Apesar disso participou, à sua maneira, ao máximo que pode das atividades propostas. Nunca vi essa criança tão calma e sorridente durante tantos dias seguidos. No terceiro dia, acordou às 2h da manhã, vestiu a roupa e esperou o dia amanhecer pra ir ao projeto. Nesse ano, conheci muitas mães de crianças especiais, que tem a mesma percepção que eu acerca do projeto, e mães de outras crianças que me motivaram a nunca deixar de ir, enquanto eles tivessem idade para participar.

Agradeço imensamente a todos os tios e tias do projeto, além dos tios da banda e voluntários que se fizeram presentes com Davi e Daniel esse ano, ao Tenente Cunha, ao Comandante Adriano Amaral e ao Subcomandante Paulo Marques pela atenção e zelo com meus meninos Extraordinários. Se o objetivo dos bombeiros é salvar vidas, lá eles salvam também muitas crianças e famílias: quando ensinam, socializam, incluem, orientam... salvam meu Davi de ficar aprisionado dentro de si e dele arrancam os mais belos sorrisos, beijos e abraços. Para tudooo! A música do ano foi contra o preconceito. Muito mais do que um projeto socioeducativo e inclusivo, é um projeto terapêutico, e pra muitas famílias, como a minha, um projeto de vida! Sabemos que lá há amor e temos certeza que ‘O amor nunca falha!’ (1 Coríntios 13:8).”